Lusofonia[...]
Lusofonia
rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova; moça; menina;
(Brasil), meretriz.
Escrevo um poema sobre a rapariga que está sentada
no café, em frente da chávena de café, enquanto
alisa os cabelos com a mão. Mas não posso escrever este
poema sobre essa rapariga porque, no brasil, a palavra
rapariga não quer dizer o que ela diz em portugal. Então,
terei de escrever a mulher nova do café, a jovem do café,
a menina do café, para que a reputação da pobre rapariga
que alisa os cabelos com a mão, num café de lisboa, não
fique estragada para sempre quando este poema atravessar o
atlântico para desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo
sem pensar em áfrica, porque aí lá terei
de escrever sobre a moça do café, para
evitar o tom demasiado continental da rapariga, que é
uma palavra que já me está a pôr com dores
de cabeça até porque, no fundo, a única coisa que eu queria
era escrever um poema sobre a rapariga do
café. A solução, então, é mudar de café, e limitar-me a
escrever um poema sobre aquele café onde nenhuma
rapariga se
pode sentar à mesa porque só servem café ao balcão.
JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008
O texto traz em relevo as funções metalinguística e poética. Seu caráter metalinguístico justifica-se pela
O poema Lusofonia em questão fala da própria escrita poética.
Se atente aos trechos:
"Escrevo um poema"
"posso escrever este poema"
"terei de escrever"
"que eu queira escrever um poema"
"escrever um poema sobre"
Quando a linguagem faz referência a própria linguagem chamamos de "metalinguagem", logo, a alternativa que justifica o caráter metalinguístico é "tematização do fazer artístico, pela discussão do ato de construção da própria obra."
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